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Carol Neves
Publicado em 10 de junho de 2025 às 13:47
O ex-ministro Augusto Heleno enfrentou momentos tensos durante seu interrogatório no Supremo Tribunal Federal nesta terça-feira (10), quando seu próprio advogado, Matheus Milanez, interrompeu suas respostas com ordens diretas. "A pergunta é só 'sim' ou 'não', desculpa", advertiu o defensor, cortando a fala do general sobre questionamentos relacionados à Agência Brasileira de Inteligência (Abin). >
Heleno, réu na ação sobre a tentativa de golpe em 2022, havia negado categoricamente ter orientado a produção de relatórios falsos sobre as eleições. "De maneira nenhuma. Não havia clima. O clima da Abin era muito bom", respondeu, antes de ser interrompido. Surpreso, o militar sorriu e reagiu: "Porra, desculpa". O ministro Alexandre de Moraes, que presidia a sessão, brincou: "Não fui eu, general Heleno, que fique nos anais aqui do Supremo, foi o seu advogado". >
A estratégia da defesa ficou clara em outro momento, quando Milanez foi enfático ao questionar seu cliente sobre conhecimento de um suposto plano golpista. "O ponto é só provar se o senhor tinha conhecimento desse plano. O senhor não tinha. Participou de alguma reunião sobre esse plano?", pressionou. Antes que Heleno completasse a resposta, o advogado encerrou: "Pronto, então é esse o ponto. Era essa a resposta que eu precisava". >
O interrogatório faz parte da fase final de instrução processual, que inclui depoimentos de outras figuras-chave do governo Bolsonaro. Na segunda-feira (9), o coronel Mauro Cid, delator do caso, confirmou que o ex-presidente teve o à "minuta do golpe" e sugeriu alterações, incluindo a manutenção da previsão de prisão contra Moraes. Já o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, negou ter entregado documentos questionando as eleições a Bolsonaro ou usado a agência para monitorar autoridades. >
Ainda serão ouvidos o ex-presidente Jair Bolsonaro, os ex-ministros Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) e Walter Braga Netto, entre outros. Após os interrogatórios, o processo segue para diligências e alegações finais antes do julgamento pela Primeira Turma do STF. A Procuradoria-Geral da República considera os réus parte do "núcleo crucial" da suposta organização criminosa que agiu contra a democracia. >
Enquanto isso, a postura do advogado Milanez com Heleno – incluindo a decisão prévia de que o cliente ficaria "parcialmente em silêncio", respondendo apenas às perguntas da defesa – marcou um dos momentos mais incomuns da série de depoimentos. A cena revelou não apenas a tensão do processo, mas também a estratégia jurídica adotada para evitar declarações que pudessem comprometer o réu.>